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sexta-feira, 10 de junho de 2011

O FILHO DE ARSE


Por mais que parece algo muito fora de um comum para qualquer outro, ele era completamente rosado. Não era tom de pele, ou por ter a pele muito branca e ter ficado ao sol ele estava rosado, não foi por que havia vodca de mais em nossa festa, ou por que raiva ele sentiu de muita gente. Não havia nenhuma explicação. Ele não estava corado. Ele realmente era completamente rosado.

Me intrigou saber desse fato assim que cheguei e a banda que foi convidada para a festa executava “hell’s bells”, me interessavam mais as carnes frescas prontas para meu tributo noturno, já que todos se ofereciam como que pendurados em bancas frias de açougue, a diferença é que não se tratava de nenhum de nossos ritos e sim apenas mais uma pequena e fugidia permanência.
Quando cheguei me receberam com beijos e falas. As mulheres que conhecia, me acenaram, as que não me conheciam abriram olhos. Não havia sequer em mim traço algum de que meu tempo era fora de minha aparência. Mas quando eu vi de relance entrar na casa, algo róseo como o interior de um yogurte.

Imagino eu que naquele instante não me dei conta, até digo a vocês pra mim não atingiu sequer a córnea, mas ele era realmente róseo. Eu ainda com uma grande taça de vinho (como que de costume), fingia não perceber interesse nem sorrisos, mas ao meu ouvido chegou a seguinte história.

- Está aqui Mediah. Filho de Arse. Lembra-se que Arse teve um filho? Então! Ele veio hoje a nossa festa. O pai dele disse que não haveria problema algum convidá-lo. E eu convidei.
Aproximaram-se duas jovens criaturas.
- Lembra-se de Arse? O que nos vendeu 50g de sementes frescas? Ainda mais agora... Lembra? Pois bem, deixa te contar. O filho de Ares, Mediah, é rosa.

E todos riram.

Eu olhei a todos os que riam próximos a nós e alguns próximos mesmo sem estar com as orelhas ao alcance, farejavam os assuntos como que se fosse assim a noite toda. Não me espantei em nada ao ouvir tal assunto. Dei de ombros. Mas o riso debochado de Mael’Thriel fez com que meus olhos buscassem entender. Por conta de longa idade eu e ele já vimos muitas coisas, desde ninfas gregas e sátiros flagrados num fragmento de tempo, até mesmo cinco garrafas completamente cheias de sonhos, mesmo que fosse incomum ter bebido demasiado, Mael’Thriel nunca seria ingênuo a debochar de um de nossos filhos.
E assim o fez por alguns instantes, não me interessando nem um pouco, já que aturdido pela banda que encerrava o show, e a cantora que perfeitamente em seu abrir de lábios loiros eu já conhecia, me desloquei para a direita onde estava a garrafa ainda fechada de Vinho.( Me lembro de Mario e Lúcia, quando numa festa sempre bebiam de garrafas abertas por eles).
Mas ao abrir a garrafa, encho minha taça e laço uma das amigas de Mastreiliel pelos braços e sigo em direção a banda. Não dou nem 17 passos e vejo Mediah. Ele era róseo, como disse antes ele era róseo. E em sua Mao uma taça vazia, olhei de cima a baixo, e enchi sua taça.
- Você é Mediah, Filho de Arse, lembra-se de mim? Ainda assustado me olhou como se eu fosse louco e em sua mente dissesse “Ei! Eu Sou ROSA!” . INSISTI. Não deve se lembrar, sente aqui comigo vamos conversar.

Meus caros, coleciono histórias!

Perguntei a ele sobre diversas coisas corriqueiras e assim ainda olhava para mim como se eu fosse tão ruim quanto todos os outros, que achavam que ele era “ROSA”, mas é CLARO ELE É ROSA. Mas em nenhum momento eu disse que ele não era. Apenas não fiz como os outros que diziam, “ele é rosa” e em seus pequenos universos destruídos pensavam “ELE É ROSA DEMAIS”.

Apenas queria que ele se sentisse apenas rosa. Nesse instante me olharam como se eu fosse rosa demais, apenas por que ele era rosa. Sabe, muitas coisas falei com ele, pouquíssimas ele me respondeu, mas certamente de uma coisa eu jamais esquecerei, poderia ser do jeito que fosse ele, ninguém tinha o direito de julgá-lo, pois as vezes achamos que o outro é “Assim ou Assado” quando no final, somos todos VERDES DEMAIS PARA AS CORES DOS TEMPOS.

sábado, 26 de março de 2011

Por Mais Que o Silencio me Perturbe


Antes mesmo que acordassem, o som da manhã lhes chegava a vidraça, que de tão próxima a estrada fazia dos automóveis a trilha sonora matinal. Mesmo que antes da primeira cantiga dos relógios desfizessem os sonhos mais absurdos, o ruído incursivo dessa manhã, penetrava nos móveis e sacudia a mobília. Ela ainda se fazia gato sob o lençol, e aturdida como que se em queda em pleno vôo, abriu legalmente a boca, sem mesmo abrir os olhos e vasculhava travesseiro que lhe servisse de surdina... (mal sabia ela que essa manhã nem ao menos começara).

E cada vez que uma manada automotiva explodia em meio aos campos de asfalto, ela resmungava, certamente por que estava a rever as coisas dos dias em seus delírios mais incomuns, ontem mesmo, ofegante, sussurrava algo como palavras em alemão, algo muito estranho para alguém que não sabe nem um tanto de um "liebe". Mas mesmo assim ela reclamava, mesmo que ele não entendesse algo sequer fosse apenas um pequeno tilintar em meio ao sono absurdo que se aplacara sobre sua alma, ela reclamava. Podem até dizer que aquela manhã demoraria mais duas horas a chegar, o que mentira totalmente não era, mas mesmo assim, para esses dois ouvidos treinados ao silencio de todos os dias, já era pleno dia.

Em seu sonho, ele estava em seu descanso preferido, som um céu azul e um sol implacável. Apenas observando o movimento dos mares. Ouvindo a brisa que se fazia plena aos ouvidos, ensaiados assovios graves que aos poucos sussurravam explosões graves, com um tom de obscuridade, que em seus sonhos eram transcritos como ondas que se quebravam em alturas um pouco maiores que as outras.

Não tirando as cores de pinceladas nessa pintura de sonhos, que por mais que estudadas pelas belas artes, metamorfoseava-se, transmutando em tons, mas não em formas. Ergueu passos firmes na areia macia (ela até sentiu um leve coice), onde cada vez mais se aproximou do destino das águas, o som de um carro a passar o faz virar em direção a estrada e nada demais apenas o leve sono continua. Sente a pancada da água em seu dorso e sorrindo deixa banhar-se nas águas, ainda sente como se quisesse acordar, mas o sono lhe é tão forte quanto o maior dos titãs.

Ainda olha novamente para a estrada, mas a água quente e convidativa a banhar os pés não permite o abandono, talvez depois de um bom mergulho, após deixar a água tão agradável tomar conta de toda a sua extensão, talvez depois de tocar o fundo da areia sob a água, tentar saber o que acontece, talvez até mesmo decidir cortar a parte fresca da areia e cometer a loucura de ir até a areia escaldante, ou até mesmo enlouquecer ao máximo e seguir para a estrada, mas agora não. Agora somos um, o mar e ele, em pensar que a pouco houve a leve impressão de que a manhã estava chegando, mas esse sono parece que vem da noite mais profunda. Poder sentir o calor
dessas águas banhando minhas pernas enquanto da arrebentação ensaio mais um mergulho me deixo aqui por um tempo, sentindo os solavancos das ondas que acariciam minha plenitude, depois o tempo segue.

Em seu sonho, claro que ela resmungava, se não fossem coisas tão comuns todo dia, palavra essa maldita desde sua invenção, CO-TI-DI-A-NO. Ela hoje sonhava com muitas coisas a primeira foi a chatice que a vida tornava a ser. A um ano atrás, houve um sorriso, e esse sorriso mudou o todo. Mas hoje o sorriso murchou ao abrir de uma porta e deitar-se ao seu lado foi como cravar um dente de sabre no mais profundo do seu pé. Ou até mesmo deixar atravessar a carne uma afiada ponta de lança.

Mas ela o amava, e assim como a perturbação sonora nos aturde, assim são os capítulos dos sonhos, eles saltam em todas as direções, seguindo uma métrica que ninguém jamais irá decifrar. E foi assim que saltou para outra estória, lembrando o dia em que chovia e ele foi lhe buscar no trabalho, trazendo uma sacola branca, onde os dois riam tanto e abraçavam-se e beijavam-se. Tanto que quem os via sentia inveja de tanta felicidade, aponto de até sorrir, sem preocupar, de demonstrar que eles eram ambos um todo.

Ela abriu a bolsa e retirou um guarda chuva, ele sorriu e mostrou como sua roupa estragada pela chuva estava totalmente encharcada, e talvez o utensílio não fosse tão funcional, ela estendeu a mão e abriu um sorriso como se dissesse, que tolice a minha, já não me serve mais e arremessou ao ar aquele embuste. Lembrou do detalhe das roupas, como as letras escrita sem sua camisa, e da cor de sua calça preta, antes de beijar seus lábios, ele fala algo, ela sorri. Beija.

Entrecortado por um esbarrão, assim são os capítulos dos sonhos, que mais uma vez saltam em qualquer direção, e levando ao absurdo da queda, onde ela agora em seu sonho está de pé na porta e olha a estrada, vendo o trânsito pesado na frente da escola, ainda percebe as crianças cruzarem a rua, sente a alegria fluir por entre os olhos ao ponto de querer a loucura de gerar uma vida, loucura essa que exigiria coragem, de todos eu acredito, mas eu espero, onde ela observa os passos, onde ela observa as cores.

Vão as crianças pela calçada. E nessa manhã uma brisa leve como uma faca afiada perambula pela rua, seu cabelo se move com essa brisa e fecha os olhos, ainda tem a menção de querer erguer do sono, mas permanecer em seu leito é melhor do que perder as cores dessas telas. Ainda sentido a brisa fecha os olhos para a realidade e os abre para os sonhos. Assim vê uma das crianças com pequenos papéis coloridos nas mãos, e sorri.

A brisa amiga, muda de direção e nas mãos da criança se faz a vilã, e numa armadilha cruel espalha os lindos papéis pela rua, se não fosse essa mulher atenta a porta, o perigo a espreita, seria o algoz dessas meninas. Um carro vem pela estrada e apenas buzina. E mais uma vez as paginas desses sonhos se viram para o lado e um esbarrão forte a joga longe. Uma leve dor, mas uma cor tão azul, penetra-lhe os olhos.

Ela, agora, sob um guarda sol, acorda e olha em direção ao mar, ele a frente de pé olha para trás, ainda antes de seu mergulho ensaiado faz pose de atleta e joga-se as ondas, ela ergue-se e, na preguiça dos verões. Olha para a estrada e ouve buzinas e outras coisas, mas a vontade de ir para o mar faz dela um albatroz em pleno vôo. E assim que, temerosa chega próxima a água teme estar fria. Mas corajosamente vê ele nas águas. Esse temor que toda mulher tem, e que se faz desnecessário em dias escaldantes de verão. Por um segundo desliga, e fecha os olhos, mas o mar não descansa os seus, e lambe-lhe as pernas, com um hálito agradável de raras manhãs de verão. Assustada olha para o mar e o vê boiando corajoso nas marolas que lhe envolvem.

Mesmo sentindo uma enorme necessidade de acordar, fica mais um pouco, e mergulha de vez ao encontro dele. No mar o beija e ele a beija. Deixando-se levar pelas caricias do mar. depois o tempo segue.

NOTA DE UM JORNAL LOCAL: ESSA MANHÃ, PRÓXIMO às 5 da manhã, num viaduto do centro, um carro, onde o motorista encontrava-se sem qualquer sinal de embriaguez, perde os freios na curva próxima aos prédios de um condomínio de luxo, entre o km 2 e o km 3, sendo arremessado em alta velocidade para fora da pista em direção aos prédios. Atravessando a janela do quarto de um apartamento, onde um casal que adormecido, atingido em cheio, ainda nas delongas do sono, morre fulminantemente.

terça-feira, 15 de março de 2011

Hecate




Posso derramar essas palavras

Aos olhos daqueles que me esperam

Apenas para não estar sozinho

Na penumbra dessa noite que me assusta

Uma Imagem...

Faz cruzar este caminho, com matilhas

de ferozes bons amigos



Tais palavras, Essas sim, soam terríveis

Lembrança... Odeio-t